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Sim, o mar e a capela talvez ainda lá estejam, mas esse povo, onde anda ele?
Povo amado, que tão mal te tratam!
Exactamente dez anos depois de eu ter tirado estas fotografias, o Dr. Adolfo Correia da Rocha escreveu:
Praia de Mira, 22 de Setembro de 1987 – Portugal não parece o mesmo. Em meia dúzia de anos, perdeu o carácter. Quem familiarmente lhe conhecia as feições que o singularizavam, fica espantado quando o percorre. Tudo mudou. As casas, as ruas, os trajes, os hábitos. Da praia de Mira que trazia na memória, e onde, num cenário mágico e a comungar com almas que o mereciam, vivi algumas das horas mais autênticas da minha vida de poeta, restam o mar, sempre revolto, e a capela, de madeira ainda, com os castiços palheiros de antanho. E é neles que consolo os olhos desiludidos. O velho oceano, na sua imutável e fascinante inquietação, e o templozinho de tábuas, na sua incorrupta e amorável rusticidade, dão não sei que razão calada ao meu espírito desencantado dum progresso que não sabe melhorar sem desfigurar.
Miguel Torga, Diário XV
Peço desculpa pela qualidade técnica variável das imagens, mas talvez se deva perdoar a diapositivos que já resistiram a três décadas e meia de vida atribulada...
Quem me dera ter eu próprio resistido com tanto aprumo!
Para despedida - e por piada, como se costuma dizer - uma fotografia de moi durante a realização destas imagens, olhar perdido algures nos confins do azul, o coração invadido de esperança no futuro deste país...
Ficha técnica:
Câmaras - Minolta XM + Minolta 303b
Objectivas - Minolta Rokkor
Filmes - Kodak Kodachrome + Kodak Ektachrome
Lugar - Praia de Mira
Data - Setembro de 1977
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